AUTÔNOMOS DRIBLAM CRISE E CONCORRÊNCIA
DESLEAL PARA SOBREVIVER NO MERCADO

Essas são as principais queixas dos profissionais autônomos do Estado, que estão sendo apuradas pela Comissão Mercado de Trabalho dos Engenheiros Autônomos, que vem se reunindo no SEESP, na Capital, e nas delegacias sindicais no Interior. O objetivo é identificar os problemas dessa parcela da categoria e descobrir quais são as soluções. Um dos meios de se aferir essa realidade é pesquisa que está sendo feita na home page do SEESP (www.seesp.org.br). Segundo o diretor da entidade, Esdras Magalhães dos Santos Filho, um dos coordenadores da iniciativa, diante do cenário observado, algumas linhas de atuação já estão definidas. Uma é buscar linhas de crédito e financiamento voltadas à qualificação, seja para melhorar o nível do serviço prestado ou se reciclar profissionalmente. Outra proposta fundamental é ampliar os programas de benefícios do SEESP nas áreas de assistência jurídica, médica, seguros e crédito, tendo em vista que esses engenheiros não têm as garantias oferecidas por um posto fixo. E finalmente incentivar o empreendedorismo, o que já vem sendo promovido pelo SEESP por meio do Programa Engenheiro Empreendedor (veja matéria na página 12).

De acordo com Esdras, não se sabe quantos autônomos existem no Estado, mas é certo que vêm aumentando significativamente. "Isso ocorre devido à crise econômica que se instalou no País a partir do final da década de 70 e à reestruturação do processo produtivo, que intensificou o desemprego." Ele lembrou ainda que é fundamental a fiscalização do exercício profissional, tendo em vista que hoje muito trabalho é feito por leigos que ocupam o lugar do engenheiro.


Sem opção

Para sobreviver nesse cenário e garantir a sua dignidade profissional, o autônomo precisa se especializar em superar obstáculos. Dalton Edson Messa, diretor da Delegacia Sindical do SEESP no Grande ABC, foi lançado ao mercado autônomo em 1981, quando aceitou ser representante de vendas da Esso Brasileira de Petróleo. "Só recebia comissões 30 dias após a data de pagamento das vendas efetuadas, o que demorava em média seis meses", lembra. No ano seguinte, ele passou a ser assalariado e, em 1995, voltou a prestar serviço de assessoria técnica como engenheiro de Segurança do Trabalho. Então, surgiu uma nova dificuldade: a maioria dos clientes rejeita o recibo de pagamento ao autônomo e exige nota fiscal, o que o obrigou a abrir a empresa Madem Engenharia e Consultoria. "Pela natureza do trabalho, os encargos são esmagadores", lamentou. A outra barreira é a concorrência daqueles que atuam irregularmente, cobrando preços aviltantes.

Também por falta de opção, Kam Wei Huang, presidente da Delegacia Sindical do SEESP em Jacareí, é autônomo há 15 anos. Para ele, embora compense financeiramente, é desvantajoso não ter a proteção da legislação trabalhista. Messa e Huang defendem como alternativa a formação de cooperativas que garantam maior proteção aos profissionais.


Desvalorização
Flávio Vinci, engenheiro eletricista, é autônomo numa empresa prestadora de serviços, que tem como principal cliente a Petrobrás. Embora esteja entre os mais felizes, que não precisam correr atrás de trabalho, acha que "a situação está péssima". Na sua opinião, faltam mecanismos de proteção. "Tenho amigos que ficaram sem trabalho porque a Telefônica os substituiu por espanhóis."

Mesmo quem optou pela vida de autônomo tem suas reclamações. É o caso de Edson Mega de Miranda, diretor da Delegacia Sindical do SEESP em Jacareí. "É bom não ter chefe e determinar o seu horário de trabalho, mas há sempre a insegurança financeira, nunca se sabe como será o próximo mês", avaliou. Para ele, o problema também passa pela concorrência desleal, que, na sua opinião, não vem sendo tratada como deveria. "O clamor da categoria para transformar o exercício ilegal da profissão em crime sequer chega aos ouvidos dos legisladores."

Para Rosemary Miguel, diretora da Delegacia Sindical do SEESP em Marília, o trabalho autônomo foi uma solução para complementar a renda de um emprego fixo. Há oito anos, ela faz avaliações e perícias de imóveis. "Também fazia edificações, mas deixei porque não valia a pena. Precisamos de uma campanha para conscientizar a população da importância do engenheiro", sugeriu. José Carlos Santos de Almeida, vice-presidente da mesma Delegacia, lembrou a total fragilidade do profissional diante dos imprevistos. "Se ficar doente, sem trabalhar, você não tem qualquer renda."

Nelson Martins da Costa, diretor da Delegacia Sindical do SEESP em Ribeirão Preto e autônomo desde 1984 vê como grande mal o fato de o contrato com o cliente muitas vezes simplesmente ser ignorado. "Surgindo um problema, é preciso pagar um advogado para tentar receber pelo seu trabalho." O diretor da Delegacia Sindical do SEESP na Baixada Santista, Telmo Lara, deixou o emprego na Cosipa para se dedicar exclusivamente às perícias na área de comércio exterior à Receita Federal, devido ao grande volume de trabalho. Hoje, a situação é diferente. "De 50 peritos, a Receita passou a 268 na última gestão. Este ano fui designado para dois trabalhos apenas", lamentou.

Volta