ENGENHEIRO HOMENAGEIA SENNA NA INTERNET

Entre os muitos sites sobre automobilismo e Fórmula 1 que o internauta pode encontrar na rede, está o Senna Brasil (www.sennabrasil.top50.com.br), criado pelo engenheiro químico Luiz Antônio Correia como uma forma de homenagear o piloto brasileiro Ayrton Senna, morto num acidente em maio de 1994. "A primeira idéia foi criar um fã clube tradicional, mas eu queria algo diferente." A solução chegou com a popularização da Internet no País, em abril de 1996. Em agosto, Correia cadastrou-se num provedor de acessos e passou a se dedicar a essa nova mídia, então ainda bastante misteriosa. "Aprendi a linguagem na raça e coloquei o fã clube no ar em maio de 1997." Hoje, são 850 sócios cadastrados, que podem se comunicar e trocar informações, objetos ou autógrafos e recebem semanalmente artigos relativos à Fórmula 1. "O site foi feito para o Senna, mas resolvi dar ênfase ao automobilismo para torná-lo mais dinâmico", contou Correia, responsável por toda a atualização da página, feita em casa após o expediente numa indústria farmacêutica.

Admirador incondicional de Ayrton Senna, Correia não reforça contudo a imagem santificada que a mídia brasileira costuma atribuir ao piloto. "Ele nunca agiu de forma desonesta, mas jogava duro para alcançar seus objetivos e deixou inimigos na Fórmula 1. Aliás, ao se pesquisar a história de Senna, descobre-se que desde a época do Kart, ele nunca levou desaforo para casa." Entre as famosas rivalidades, Correia lembra a briga com seu companheiro de equipe na McLaren, Alain Prost. "Ele mesmo contou numa entrevista que, em 1991, jogou o carro em cima do Prost propositadamente porque dois anos antes o francês havia feito o mesmo." A disputa de egos com Nelson Piquet, por sua vez, começou em 1983, quando esse vetou a entrada de Senna na equipe em que corria. "O Piquet foi muito malvisto, mas o Senna depois agiria da mesma forma com outros pilotos. Porém, não restam dúvidas quanto ao seu bom caráter, inclusive por ter mantido em absoluta discrição todo o trabalho de assistência social que fazia."

Embora esteja ligado a Ayrton Senna um dos momentos mais marcantes da Fórmula 1 para Correia — a vitória do Grande Prêmio de Interlagos em 1991 —, o gosto pelo automobilismo começou bem antes. Quando se mudou de Santos para a Capital em 1980 para cursar a Oswaldo Cruz, tornou-se freqüentador assíduo de Interlagos. "Não para ver Fórmula 1, porque as corridas eram no Rio de Janeiro, mas para assistir qualquer tipo de prova." Em 1990, o GP Brasil transferiu-se para São Paulo e Correia pôde realizar o grande sonho. "Desde então, eu assisto tudo, folgo no trabalho na sexta-feira para ver os treinos, vou no sábado e no domingo, quando chego na fila às 3 horas."


AVANÇOS

Fascinado, Correia acompanha atento as transformações da Fórmula 1, como a fase da tecnologia, entre 1992 e 1993, em que os supercarros da Williams dominaram o campeonato. "Mesmo assim, com um motor Ford muito inferior, Senna ganhou cinco corridas em 1993", ressaltou o fã. "O controle da tecnologia era tão exagerado que num GP da Áustria, após ter a potência do seu carro reduzida pelo box, o inglês Nigel Mansell parou e abandonou a prova em protesto. Hoje, isso foi abolido e o piloto conta muito mais", relatou. Na avaliação de Correia, se qualquer piloto fosse capaz de um brilhante desempenho tendo um grande carro, a Ferrari não pagaria milhões ao alemão Michael Schumacher, indiscutivelmente o melhor da temporada. Tanto pior para Rubens Barrichello, a esperança brasileira. "Ele precisa mostrar ao que veio neste ano, o que não é uma tarefa fácil estando na equipe mais visada e ao lado do principal piloto", constatou.

Excessos à parte, muitos avanços tecnológicos desenvolvidos para a Fórmula 1 são transferidos para os carros comerciais. "Uma Ferrari que se compra no mercado tem tecnologia de F1, como por exemplo o câmbio na mão", observou o engenheiro. Também migraram do esporte os projetos aerodinâmicos, câmbio automático, embreagem hidráulica e acelerador eletrônico. "Nos veículos top de linha, da BMW, Mercedes e Alfa Romeo, tudo vem da F1", contou. Correia acredita que esse fenômeno intensifique-se em 2001, quando a indústria tabagista será banida como patrocinadora e os fabricantes de automóveis devem entrar para valer na Fórmula 1. "As montadoras já começaram a adquirir equipes. A Audi, que é a divisão de carros de luxo da Volkswagen, quer comprar a Minard. A BMW entra cada vez mais forte na Williams e 40% da McLaren já é da Mercedes."

Essa tendência representa, segundo o engenheiro, uma volta aos primeiros tempos do esporte, anterior ao amadorismo que marcou a Fórmula 1 entre as décadas de 60 e 70. "Na época do Emerson Fittipaldi, por exemplo, eles viajavam para o país onde haveria a corrida, compravam um carro, levavam-no numa carreta ao autódromo, contratavam dois mecânicos para regular e pronto."

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