ENSINO EPROMOÇÃO DA CIDADANIA

Em seu manifesto "Lições de Gabriela" — referência à tragédia do Edifício Enseada do Serrambi, em que a garota de apenas quatro anos morreu após ter sido resgatada dos escombros, onde permaneceu soterrada por 20 horas — o engenheiro Paulo Helene, ilustre professor titular da Escola Politécnica, contabiliza 128 vítimas fatais nos recentes desabamentos de edificações no Brasil. Especialista em patologia das estruturas de concreto, ele associa esses tristes fatos e a sua incidência crescente ao exagerado número de escolas de Engenharia Civil e à falta de estrutura da maioria dessas instituições, desprovidas de laboratórios e bibliotecas especializados e de professores aptos e em número suficiente. Helene aponta problemas também na fiscalização do exercício da profissão, sob responsabilidade do Sistema Confea/Creas, e os modelos de habilitação, que não distinguem os engenheiros pela experiência acumulada ou pela requalificação e reciclagem, cada vez mais necessárias tendo em vista a constante renovação tecnológica.

A hipótese aventada pelo professor politécnico refere-se ao ensino de Engenharia Civil e ao seu exercício profissional, mas pode ser aplicada de maneira geral ao ensino universitário do País. A proliferação das escolas de terceiro grau, iniciada no período da ditadura militar e em franca expansão nos dias de hoje, nada tem a ver com as lutas pela democratização do acesso ao conhecimento e pela garantia de oportunidades aos mais pobres. Representa, ao contrário, um processo de mercantilização, que somente aprofunda seu caráter elitista e aumenta a exclusão da massa de baixa renda, que constitui a imensa e absoluta maioria da população brasileira. Especialmente grave é o registro crescente do número de vítimas fatais associado à imperícia e à baixa capacitação de profissionais de nível superior que atuam no mercado.

Como engenheiro formado há 25 anos, manifesto minha concordância com o professor Paulo Helene sobre a necessidade de haver uma ação conjugada entre as diversas instituições ligadas à Engenharia e à tecnologia, universidades, prefeituras e MEC, capaz de atualizar procedimentos relativos à qualificação e à reciclagem profissional. Particularmente, entendo que é preciso exigir uma ação mais efetiva do Sistema Confea/Creas, que não pode limitar sua atuação à fiscalização formal, mas precisa participar do debate dos grandes temas que afetam a Engenharia e os interesses da população. Como cidadão, clamo por uma profunda reforma da Educação, que não pode ficar circunscrita à própria escola. As discussões sobre ética e promoção da cidadania somente produzirão resultados efetivos se permearem toda a sociedade — legisladores, magistrados, governantes, educadores, dirigentes sindicais e trabalhadores em geral — e abrangerem o direito ao conhecimento e a garantia de condições sócio-econômicas de vida digna para todos.

Eng. Josebel Rubin
Coordenador Geral do Núcleo 
de Cidadania e Justiça

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