A MALIGNIDADE DAS PRIVATIZAÇÕES

 

Os resultados do processo de privatização argentino não serviram de alerta para nossos dirigentes. Com anos de atraso, compara­tivamente aos países de Primeiro Mundo, e na sua contramão, nossa pobre América Latina iniciou a privatização do setor público.

A Argentina, pioneira, já em 1994 amargava essa adesão incondicional às determinações do FMI. “Para a instalação de água e esgoto é cobrada uma taxa de U$ 1,200.00” (La Nación, 31/10/94). Nesse mesmo ano, a Edenor (capital francês e espanhol), atuando na área de eletricidade, foi multada pelo governo argentino em 4,5 milhões de dólares por deficiência  no fornecimento de energia.

As conseqüências sociais e econômicas

O desemprego é um dos efeitos mais perversos dessa política de privatizações, que no Brasil e na América Latina vem sendo paulatinamente questionada. Na Grande São Paulo, o desemprego atingiu no mês de agosto último, segundo os dados da Fundação Seade, o altíssimo índice de 20,1%.

Como na Argentina e nos demais países que sofrem com a privatização, o aumento tarifário e a queda da qualidade dos serviços públicos vem sendo constante. Isso, somado ao congelamento dos salários, representa um arrocho na qualidade de vida da população.

Segundo a Folha de São Paulo de 20 de agosto, no período que antecedeu as privatiza­ções e após a desestatização, as tarifas telefônicas tiveram reajustes em até 2.196,72%, sem qual­quer melhoria de qualidade. O mesmo ocorre com as rodovias, que tiveram  aumento tarifário de até 281%. Outra grave conseqüência dessa po­lí­tica emanada do chamado Consenso de Washington é que os serviços não mais atenderão às camadas pobres da população, comprome­tendo definitivamente sua universalização.

Em alguns casos de privatização vemos, na verdade, uma descentralização de setores da economia brasileira. Diante desse quadro, inicia-se no Brasil e em toda a América Latina um questionamento dessa política e a própria mídia, salvo algumas exceções, começa a endossar esse coro. Exemplo disso é o posicionamento do Sindesam (Sindicato Nacional das Indústrias de Equipamentos para Saneamento Básico e Ambiental), em seu boletim: “Entendemos também que a iniciativa privada não substituirá o Estado na universalização da prestação dos serviços no caso de regiões pobres, onde não se tem possibilidade de retorno financeiro dos investimentos”.

O consenso nacional

Paralelamente a uma profunda reflexão sobre as causas e efeitos do Consenso de Washington e o processo intenso de privati­zação, urge construirmos um Consenso Nacional que privilegie o desenvolvimento, a tecnologia e a questão da soberania. Para tanto, faz-se necessário redirecionar a política econômica, eliminando a política suicida dos juros altos, e utilizar o BNDES, não para privatizar, mas para alavancar o desenvolvi­mento nacional, razão de ser desse banco de fomento. Esse Consenso Nacional terá que ser fruto de uma ampla aliança de forças políticas e sociais, do empresário ao trabalhador sem especialização, que tenha como norte a democracia e uma justa distribuição de riqueza.

 

Eng. Cid Barbosa Lima Júnior

Diretor do SEESP

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