EDITORIAL


Personalidades da Tecnologia

O Brasil do final desta década de 90 atravessa um momento difícil, em que a economia registra baixíssimo nível de crescimento, caminhando para uma recessão. Há um processo de transformação radical dessa economia, com a aquisição de empresas nacionais pelas estrangeiras e privatização de estatais.

Atuando nesse contexto, nós, engenheiros de São Paulo, nem sequer sabemos quantos somos. De acordo com o número de profissionais empregados com cargo de engenheiro na carteira de trabalho, o número é da ordem de 40 mil; se buscarmos aqueles que integram as grandes organizações e pagam contribuição sindical, chegaremos a 70 mil; e se verificarmos os registros no Crea-SP, teremos 145 mil. Há ainda estimativas de que o total de formados no Estado é de 200 mil.

O que fazem esses homens e mulheres é incógnita ainda maior. Pode-se intuir que estão trabalhando e dando sua contribuição ao desenvolvimento de produtos, processos, à realização e implantação de projetos, à manutenção e operação de grandes sistemas técnicos sofisticados etc. Mas não se sabe ao certo qual é o espaço exato reservado ao exercício da Engenharia e ao esforço de materialização da compreensão da tecnologia, de desenvolvimento do conhecimento em atividades que visem a melhoria de vida da nossa tão sofrida população. Isso, por si só, é uma tristeza e nos coloca o imenso desafio de ajudar esse ator social vital a criar uma consciência coletiva e se compreender enquanto vetor de transformação e construção de uma sociedade mais justa, integrada e capaz de acolher os nossos irmãos brasileiros de todas as faixas de renda, raças, credos e colorações políticas. Qual a contribuição que esse vetor pode dar? Qual a que está dando? Para onde devemos apontar a sua atuação empreendedora, a sua vontade de realizar?

O prêmio Personalidade da Tecnologia, que o SEESP concede anualmente e hoje chega a sua 12ª versão, tem um papel a cumprir nesse processo. Em primeiro lugar, a homenagem tem a função básica de reconhecer a contribuição dada por determinados colegas, deixar claro que alguns homens e mulheres já fizeram muito na tecnologia e na Engenharia. Mas, com maior profundidade, a premiação visa projetar essa história individual em uma coletiva no futuro. É ela que nos ajuda a apontar caminhos, a ter a visão estratégica de para onde deve ser levada a atuação em busca da transformação da sociedade brasileira. Esse é o ponto nevrálgico, a essência do prêmio e o que faz dele a referência constante para nosso trabalho no dia-a-dia.

Neste ano, está em andamento a rearticulação do Conselho Tecnológico do SEESP, que, após um longo processo de decisão — incluindo a consulta aos associados —, chegou aos nomes agraciados em 1998. É importante lembrar que a atividade do Conselho não se esgota no dia do prêmio. Pretendemos que essa tenha continuidade ao longo do ano, debatendo em profundidade as questões que se tornam tão candentes: o futuro da Engenharia e dos seus profissionais, as vocações regionais e as estratégias setoriais. Nosso Conselho Tecnológico, que tem entre suas propostas a requalificação da categoria, deve extrair da leitura da dinâmica tecnológica da economia brasileira quais as qualificações necessárias e vitais para ajudar o nosso País a se desenvolver. Seu trabalho não se encerra com a solenidade de premiação, mas se estenderá no tempo, buscando atender a essas demandas.

Eng. Paulo Tromboni de Souza Nascimento
Presidente  

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