FORUM DE DEBATES


Quércia fala aos engenheiros no SEESP

O ex-governador Orestes Quércia foi o primeiro candidato a participar do Fórum de Debates no SEESP.
Ele garantiu que sua grande obra será a Educação e criticou a política econômica vigente no País.

Teve início no dia 5 de agosto último o Fórum de Debates organizado pelo SEESP (Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo), cujo objetivo é discutir as propostas para o governo de São Paulo. Inaugurou a discussão o candidato do PMDB, ex-governador Orestes Quércia, que apresentou as realizações de seu mandato anterior como seu aval para a disputa atual. "Tenho a convicção de ter cumprido o meu dever como governador de São Paulo e feito até mais do que me comprometi durante a campanha."

Política econômica

Antes de apresentar propostas, Quércia criticou a política econômica em vigor no País e falou pelo PMDB. "Vocês sabem que nós tentamos lançar um candidato próprio à presidência da República. Como a tentativa foi frustrada, eu me sinto na obrigação de colocar um pouco dos nossos pensamentos com relação à política nacional, até porque São Paulo é um Estado-País, cuja economia representa duas Argentinas." Ele queixou-se do papel reservado ao Brasil no contexto da América Latina e do mundo. Segundo o ex-governador, nas últimas décadas o Brasil cresceu em relação ao restante da América Latina e isso não está sendo levado em conta no processo de globalização. "Até a segunda guerra mundial, os americanos investiram muito na América Latina, mas, desde o pós-guerra, essa realidade mudou e a região regrediu, com exceção do Brasil. Em 1950, a economia americana significava 28 vezes a argentina e 33 vezes a brasileira. Em 1990, essa relação havia mudado para 58 vezes a argentina e 13 vezes a brasileira. O Brasil cresceu enquanto o restante da América Latina foi para trás. Porém, hoje, com a globalização, nós estamos sendo nivelados por baixo."

Essa realidade, para Quércia, tem se refletido maleficamente no dia-a-dia dos brasileiros. "Acho importante termos moeda forte, mas com desenvolvimento, salários, dinheiro no bolso do trabalhador", argumentou. Para ele, foi errado também o processo de privatização do Sistema Telebrás, vendido em bloco em leilão realizado no dia 29 de julho último. "Se você tem 12 terrenos, vende um de cada vez ou todos ao mesmo tempo? É claro que um por vez. O processo de privatização tem o objetivo de angariar dinheiro e pagar juros de investimento de curto prazo." Na sua opinião, é problemática ainda a concentração na União dos recursos arrecadados nos Estados e Municípios. "Isso nunca foi como hoje, nem no regime militar. Os recursos vão todos para o Governo Federal, não para serviços sociais, mas para pagar juros", rechaçou. Nessa linha, Quércia defendeu a necessidade de dar garantias ao Estado. "Tenho consciência da importância de São Paulo, em cujas ruas escreve-se a história do Brasil."

Ele assegurou ter confiança em sua proposta de governo para reverter o quadro que o coloca hoje em último lugar nas pesquisas na disputa para o Palácio dos Bandeirantes. "Essa proposta será fazer com que São Paulo cresça. O governador deve ser o advogado de São Paulo, dos agricultores, dos industriais... É fundamental que tenhamos um reinício de investimento econômico para o País. Hoje, estamos comprando feijão e arroz de países estrangeiros, com a nossa agricultura desamparada. As distorções da política econômica podem nos levar a um drama muito sério. Minha proposta, como candidato, é uma reação a isso. Se o Estado de São Paulo continuar a ter uma presença de subordinação às definições dos tecnocratas de Brasília, eu acho que vai ser difícil."

O candidato do PMDB descartou qualquer possibilidade de ceder às pressões para que os governos estaduais privatizem suas empresas. "Imagine o BNDES pressionar São Paulo? Num governo meu, eles nem passam na porta. Eu paguei um preço político enorme por privatizar a Vasp, que dava um prejuízo anual de R$120 milhões. Não tinha cabimento o Estado sustentar a Vasp, não tenho nada contra a privatização, desde que o processo seja natural. O que está acontecendo hoje é absurdo. Por que privatizar as empresas que têm características sociais?" Com relação à Sabesp, que pelos planos do governo Covas pode ter 20% de suas ações vendidas a um parceiro estratégico, Quércia garantiu mantê-la estatal. "Não há nenhum projeto de privatizá-la. Essa sempre foi uma empresa muito bem-administrada e sempre esteve ótima." Ele afirmou também que irá rever as concessões das rodovias paulistas. "O que criaram de pedágios no Estado não é brincadeira."

Endividamento

O ex-governador também aproveitou para se defender das acusações de excessivo endividamento. "O Covas dizia muito que eu quebrei o Estado e o Banespa. Isso não é verdade. Dados da própria Secretaria da Fazenda, e não meus, mostram que até o final do governo Montoro, o endividamento de São Paulo era de R$ 12,5 bilhões; até o final do meu governo, era de R$ 18 bilhões; Fleury terminou com R$ 40 bilhões; e o Covas tem quase R$ 80 bilhões. E ele diz que saneou as finanças do Estado." Ainda segundo os dados apresentados por Quércia, a dívida com o Banespa segue a mesma progressão, ficando, respectivamente, nos governos Montoro, Quércia, Fleury e Covas em R$ 3,2 bilhões, R$ 4,8 bilhões, R$ 9,3 bilhões e R$ 29 bilhões. "Somente o atraso de se assinar o acordo com o Governo Federal aumentou em R$ 20 bilhões a dívida de São Paulo. E eu sequer assinaria um acordo nos moldes desse", concluiu. Ele afirmou que ingressará com uma ação na Justiça contra o governador Mário Covas pelo atraso na negociação da dívida, o que teria onerado os cofres estaduais. "Eu sou conhecido por fazer grandes obras. Durante o meu governo, dupliquei as grandes vias de São Paulo, fiz quase metade do Metrô, a ligação de trólebus do ABC a São Paulo, o canal de Pereira Barreto. Em todas as obras, investimos R$ 15 bilhões. Como perder numa assinatura de um contrato R$ 20 bilhões por omissão? Minha intenção é ajudar o Brasil fortalecendo São Paulo."

Plataforma

Como proposta de governo, Quércia apresentou o projeto de organizar 10 ou 12 regiões administrativas no Estado de São Paulo. "A idéia é que cada região tenha uma administração, com secretariado e verba próprios. É a forma com a qual, temos certeza, levaremos o Estado a um processo de desenvolvimento."

Mais uma vez referindo-se ao mandato anterior, o ex-governador assegurou ter feito grandes investimentos nos setores de Segurança e Saúde, esse último merecendo aumento de 3% para 12% do orçamento estadual. Ele afirmou também ser o responsável pelo programa de moradia popular existente em São Paulo. "Quando assumi o governo, haviam acabado com o BNH. Eu tentei trazer recursos federais para a moradia em São Paulo e não consegui. Então, criamos um projeto próprio e entregamos 40 mil casas, deixando quase prontas mais 100 mil."

Quércia disse, contudo, que numa eventual vitória, a sua grande obra será a Educação. "Faremos pela Educação o que ninguém jamais fez no Brasil." Segundo ele, uma medida para isso será criar aproximadamente 130 regiões escolares, que terão autonomia administrativa. "Daremos incentivo às empresas para que ajudem esse setor. Farei tudo que for possível para resolver a questão educacional em São Paulo", afirmou.

Democracia

Todos os demais candidatos foram convidados para o Fórum de Debates. Já está marcada para 17 de setembro a participação do governador Mário Covas. Para o presidente do SEESP, Ubirajara Tannuri Felix, que mediou o primeiro encontro entre os candidatos e os engenheiros, a iniciativa é de extrema importância. "Optamos pelo processo tradicional de democracia do nosso sindicato e esperamos poder contribuir para o seu avanço, promovendo o debate", afirmou.

 

Propostas aos candidatos

 

Tradicionalmente, o SEESP vem apresentando aos governantes suas idéias para o Estado e o País. Veja abaixo a relação de propostas entregue aos candidatos ao governo de São Paulo.

  • Instituição da Engenharia Pública no Estado, oferecendo serviços à população carente.

  • Recursos para projetos de engenharia.

  • Linha de crédito da Nossa Caixa Nosso Banco S/A para os pequenos escritórios de engenharia.

  • Custeio e preparação de projetos de engenharia para prefeituras, órgãos públicos e instituições privadas sem fins lucrativos.

  • Empréstimos subsidiados às pequenas e microempresas para contratação de serviços de engenharia.

  • Reciclagem Tecnológica.

  • Plano de Cargos e Carreira para os engenheiros do Estado.

  • Garantia dos processos de negociação com todas as empresas e autarquias do Estado.

  • Comitê de Tecnologia no Estado.

  • Participação das entidades de engenharia no processo de decisão de políticas públicas nos Conselhos Deliberativos de órgãos e empresas estatais.

 

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