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OPINIÃO - A construção do Maracanã

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João Guilherme Vargas Netto

        Com a realização do seminário Cresce Brasil sobre a Copa do Mundo e o desenvolvimento, o SEESP e a FNE (Federação Nacional dos Engenheiros) tomaram a primeira iniciativa sindical para abordar com seriedade o tema. Com o que sabem, os engenheiros reafirmaram a importância das obras e dos empreendimentos para o êxito da tarefa e suas consequências no desenvolvimento, exigiram presteza e transparência nas realizações e desautorizaram os que, sob quaisquer pretextos, desconfiam da nossa capacidade ou agitam o fantasma da corrupção e do desleixo. Espancaram o “complexo de vira-latas”.

        A atual cruzada pode recolher lições da verdadeira guerra travada nos fins da década de 40 do século passado para trazer a Copa de 50 para o Brasil e para a construção do Maracanã.

        Com a interrupção causada pela II Guerra Mundial e a devastação na Europa, o Brasil se ofereceu para sediar a primeira Copa pós-bélica. Confirmado o evento, tratou-se, com urgência, já que estávamos a menos de três anos dos jogos, de realizar as obras de infraestrutura e preparar o País com a construção, na então capital do Brasil, de um estádio monumental.

        Depois de muitas discussões sobre sua localização e projeto, escolheu-se o terreno “vazio” do antigo Derby Club (de propriedade da Prefeitura do Rio de Janeiro) e aprovou-se a planta em falsa elipse, que ficou famosa. A construção em si, com o mutirão de trabalhadores migrantes, foi uma epopeia envolvendo arquitetos, engenheiros e grandes empreendedoras. Consumiram-se 500 mil sacos de cimento, 10 mil toneladas de ferro, utilizaram-se 40 mil caminhões, 8 milhões de horas de trabalho e 40 milhões de m³ de terra escavada.

        Mais peso tiveram os embates políticos. A direita, comandada pelo vereador da UDN (União Democrática Nacional), Carlos Lacerda, opôs-se ferozmente à construção, com argumentos muito parecidos aos que se esgrimem atualmente: incapacidade de realização, ocorrência de corrupção, inutilidade das obras e da Copa para um povo que queria pão e não circo. Mas a vontade da massa, do prefeito e dos vereadores e a capacidade dos engenheiros e trabalhadores foram vitoriosas. O Maracanã foi inaugurado em 16 de junho de 1950, oito dias antes da abertura do evento.

        A favor da construção, destacaram-se o jornalista Mario Filho, do Jornal dos Sports (que foi homenageado com o nome oficial do estádio), e o compositor Ary Barroso, flamenguista doente e também vereador da UDN.

        Mas o papel principal desempenhado na luta para vencer as resistências, a desinformação e a histeria coube à forte bancada dos vereadores do Partido Comunista (entre eles, o já famoso humorista Aparício Torelly, o Barão de Itararé), que conseguiram a aprovação da Câmara Municipal e enfrentaram a radicalização anticomunista da direita no clima da guerra fria que começava. Aliás, esse vício anticomunista é o único que não tem aparecido entre os críticos atuais das obras para a Copa de 2014.
Astrojildo Pereira, que vou citar em artigo de 1947, revela com ironia (como era de seu feitio) o clima ideológico: “Não importa saber que os vereadores comunistas são 18 em 50 e que seus projetos só podem ser aprovados se tiverem apoio de não comunistas e forem sancionados pelo prefeito que também não é comunista. Para os adversários, o estádio municipal será um estádio ‘comunista’ e nele se jogará um futebol ‘comunista’.”

 

João Guilherme Vargas Netto é consultor sindical do SEESP

 

 

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