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EDUCAÇÃO - Um modelo de ensino para a América Latina

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Lucélia Barbosa

         Na era do conhecimento, a formação em engenharia no Brasil e no restante do continente precisa ser capaz de produzir profissionais que deem conta das tarefas impostas no século XXI, entre elas as questões energéticas, ambientais, de produção de alimentos e fornecimento de água potável, além do desenvolvimento de novas tecnologias.

         O desafio foi colocado durante o segundo evento da série “Encontros de Tecnologia de Educação em Engenharia 2011”, realizado em 16 de março na sede do SEESP, que teve como palestrante o professor José Carlos Quadrado, presidente da Asibei (Asociación Iberoamericana de Instituciones de Enseñanza de la Ingeniería) e do Isel (Instituto Superior de Engenharia de Lisboa) e vice-presidente da Sefi (Sociedade Europeia de Educação em Engenharia). Promovida pelo Isitec (Instituto Superior de Inovação e Tecnologia), em fase de implantação pelo sindicato, a atividade pretende ao longo deste ano discutir as mudanças necessárias no ensino da profissão, de modo a enfrentar os desafios e as oportunidades do século XXI.

         Segundo Quadrado, o ensino superior de um modo geral e as escolas de engenharia em particular padecem, na América Latina, de inúmeros problemas. “Há falta de recursos para inovar, o currículo é desatualizado, muitos jovens não se inscrevem na universidade e o número de adultos que a frequenta é residual”, listou. “Algumas instituições latino-americanas se encontram entre as melhores do mundo, porém o seu potencial é muito maior”, mencionou.

         Para ele, deve ser implementada uma agenda de modernização nas universidades, buscando o crescimento e o emprego através da reforma curricular. Tal ação deve contemplar a aprendizagem por competências, novos locais de ensino, educação para os docentes, autonomia das universidades, parcerias estratégicas envolvendo empresas, garantia de qualidade e diversidade de financiadores, incluindo sistema de bolsas. “É preciso também manter a estrutura própria das instituições preservando a identidade e estabelecer parcerias internacionais para reduzir a dependência de políticas divergentes”, recomendou Quadrado.

         No entanto, se quiser superar o atraso socioeconômico existente desde a era dos descobrimentos, asseverou o professor, será necessário mais que solucionar as carências evidentes e alcançar o patamar dos países desenvolvidos para que se produza algo original. Na sua opinião, a principal missão do Brasil é liderar essa reforma. “Ao invés de competir tentando duplicar ou copiar a experiência de fora, o ideal é desenvolver um modelo próprio e inovador”, propôs.

 

O novo profissional
         Se a América Latina tem nas mãos uma tarefa e tanto, também não é banal o desafio global de formar o profissional que se demanda neste século, que deve “ter sólida capacidade analítica, criatividade, alto nível de comunicação com os diferentes interlocutores, competências de gestão, dinâmica e flexibilidade”. “Um líder adaptável que atenda as necessidades locais e que seja ao mesmo tempo competitivo globalmente”, resumiu Quadrado.

         Para atingir essa meta, o especialista aponta que as instituições de ensino devem cumprir os seus objetivos. Entre eles, desenvolvimento intelectual, transmissão de cultura e cidadania, incremento do conhecimento e potencialização do emprego. Além disso, é fundamental que cada universidade entenda a situação da economia global e aborde os desafios da atualidade no sistema educativo. “Outro fator primordial é o planejamento estratégico dos currículos preparando o estudante para assumir papel de liderança em diversas áreas, aprender ao longo da vida, contribuir para a profissão e ser bem-sucedido num mercado de trabalho multidisciplinar”, sugeriu o conferencista, acrescentando que a reforma curricular também deve apoiar a economia do País.

         Conforme Quadrado, tecnologia e inovação são os elementos-chave para o desenvolvimento econômico sustentável. E, por conta disso, nações do mundo todo estão competindo globalmente na corrida por talentos, capital e investimentos. “Estamos numa economia baseada no conhecimento. E o capital humano é o suporte para o crescimento”, ressaltou. Para ele, os engenheiros do século XXI devem atuar pensando no contexto ambiental, econômico e do ciclo de vida, colaborar com outras profissões e decidir ser mentores das novas gerações.

 

Ênfase na competência
         Com aproximadamente 4 mil instituições de ensino – algumas consideradas as melhores do mundo –, a Europa também teve que fazer mudanças na educação em engenharia.

         A iniciativa surgiu no ano 2000, quando foi criada a Declaração de Bolonha. O processo finalizado em 2010 estabeleceu o ensino por competências e concedeu às instituições autonomia na criação de novos cursos.

         Segundo Quadrado, outra novidade do modelo europeu foi o suplemento ao diploma, uma espécie de currículo complementar em que o professor descreve as competências individuais de cada aluno, tais como projetar um edifício ou construir uma ponte. Dessa forma, graduados de um mesmo curso podem ser aprovados e ter o diploma, mas possuir habilidades distintas no documento. “É justamente isso que os empregadores querem e não notas acadêmicas. O paradigma agora é formar engenheiros que tenham competências multidisciplinares”, enfatizou. Bolonha mudou também a atuação do professor que tem mais trabalho para orientar o desenvolvimento das habilidades dos alunos e avaliá-los individualmente.

         Participaram do debate João Sérgio Cordeiro, professor da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e consultor pedagógico do Isitec; José Roberto Cardoso, diretor da Poli/USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) e coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP; e Marcos Cintra, secretário municipal do Trabalho de São Paulo e vice-presidente da Fundação Getúlio Vargas.

 

 

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