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14/11/2019

Regina Ruschel: pioneira na inovação da engenharia civil

Rita Casaro – Comunicação SEESP

Engenheira civil, Regina Coeli Ruschel é livre-docente em Projeto Auxiliado por Computador, doutora em Engenharia Elétrica na Área de Automação e mestre em Mecânica dos Solos. Foi professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em regime de dedicação integral e exclusiva por 32 anos.  Hoje atua na instituição como pesquisadora e professora colaboradora nos programas de pós-graduação em Arquitetura, Tecnologia e Cidade & Engenharia Civil. Em reconhecimento a essa trajetória repleta de realizações, ela receberá o prêmio Personalidade da Tecnologia 2019 na categoria "Educação". A homenagem é tradicionalmente feita pelo SEESP em comemoração ao Dia do Engenheiro – celebrado em 11 de dezembro – agraciando profissionais que se destacaram em suas respectivas áreas de atuação. Neste ano, a cerimônia acontece no dia 9 de dezembro, a partir das 19 horas, no auditório do sindicato, em São Paulo.

Regina Ruschel 2 divulgacaoRuschel receberá o Prêmio Personalidade da Tecnologia 2019. Foto: Divulgação


Entre os destaques em sua carreira, Ruschel atuou de forma pioneira na implantação das transformações que marcaram a profissão e o setor da construção civil. A primeira aconteceu nos anos 1980, com o advento do CAD – quando os projetos saíram no papel e foram para o computador. A segunda, já no século XXI, associa o desenho geométrico à informação e à integração de todos os agentes envolvidos na construção, do projeto ao uso da edificação ou infraestrutura: o Building Information Modeling (BIM).  O processo, afirma Ruschel, transformará o setor e produzirá, entre outros resultados, uma engenharia civil mais precisa e industrializada.  


Ainda como parte de seu trabalho de difusão dessa inovação, a professora formulou e coordenou a especialização Master BIM oferecida pelo Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), que tinha como entidade mantenedora o SEESP. É também a coordenadora pedagógica do curso de extensão que o sindicato realiza em dezembro sobre fundamentos e implementação de BIM.


Nesta entrevista, Ruschel fala sobre a importância e o significado da homenagem, a relevância do BIM e também sobre os desafios das mulheres numa profissão ainda majoritariamente masculina.


A senhora receberá neste ano o prêmio Personalidade da Tecnologia na categoria Educação. O que representa essa homenagem prestada pelo Sindicato dos Engenheiros?

Eu fiquei surpresa e extremamente feliz. Considero ser o segundo maior prêmio da minha carreira. O primeiro foi o de Excelência Acadêmica da própria Unicamp. Este também considero ser de excelência acadêmica, mas é o reconhecimento por um órgão externo e que não envolve apenas a engenharia civil, mas todas as engenharias. Achei extremamente importante ver a educação em engenharia civil ser reconhecida em tecnologia. Fiquei muito grata.

A senhora tem uma longa e muito profícua carreira como engenheira, educadora e pesquisadora.  O que há de mais relevante na evolução da profissão nesse tempo?

A minha a carreira em ensino e pesquisa sempre foi voltada à tecnologia da informação e da comunicação aplicada ao projeto. Passei por duas grandes transformações nas quais fui pioneira. A primeira foi na década de 1980, quando o projeto saiu do papel e foi para o computador, com o CAD. A  Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp foi a primeira a introduzir de forma obrigatória o ensino do projeto auxiliado por computador, expressão depois banalizada com a palavra CAD associada a um único programa.  O mesmo ocorreu nesta nova transformação que, além de fazer o projeto auxiliado por computador pensando no desenho geométrico, está associada à informação e a todo o ciclo de vida da edificação.  A engenharia civil é muito conhecida no seu processo por ser fragmentada; os agentes envolvidos no projeto, na construção e no uso da edificação ou da infraestrutura são extremamente desconectados uns dos outros. Isso faz com que a informação ao longo do processo se perca e a gente tenha retrabalho e falhas, como perda de prazos e aditivos contratuais, fazendo com que o que foi planejado não seja cumprido. Agora, com o que a gente chama de Modelagem da Informação da Construção, com o sigla em inglês BIM, tenta-se juntar, alinhavar e fazer colaborar todos os agentes. Isso tornará a entrega mais eficiente e a obediência a prazos, mais real, com o produto mais preciso. A Unicamp, mais uma vez, foi pioneira na engenharia civil e na arquitetura e urbanismo ao incorporar essa inovação.

O que o BIM representa em termos de transformação para a engenharia e a construção?
Hoje você não vê ninguém fazendo desenho de projeto a nanquim ou usando normógrafo. Da mesma forma, você não verá no futuro um processo de projeto que não tenha essa abordagem do BIM; é uma transformação, não um modismo.  O BIM se faz realizar por meio de múltiplas e novas ferramentas para atrelar a geometria à inovação, mas não são apenas as ferramentas que fazem o processo acontecer.  E não são sempre as mesmas e nem a mesma sequência utilizada, depende do que se está fazendo. Órgãos de fomento, prefeituras, projetistas etc. usam ferramentas diferentes. Existe diversidade de ferramentas que requerem trabalhar juntas e toda uma mudança no acompanhamento.  

Que desafios a senhora avalia que a engenharia nacional precisa vencer neste momento e no futuro próximo?

O BIM aproxima a engenharia civil da mecatrônica, da engenharia de produção e vai requerer uma transformação para que se torne mais industrializada. Teremos um canteiro de obras mais limpo e mais distribuído, com montagem no canteiro e fabricação fora. Há o potencial de se aproximar da indústria 4.0, com uma engenharia mais monitorada, sensoriada, mensurada.

Essa construção civil industrializada vai demandar mão de obra mais qualificada?
Sim, será um fomento para darmos um delta em formação e qualidade de trabalho para o ser humano.  Acho isso maravilhoso!  O Sindicato dos Engenheiros pode muito colaborar nessa formação. Esse é um processo de médio e longo prazo, de uma a duas décadas para se consolidar.

O SEESP tem debatido a necessidade de dar prioridade à engenharia de manutenção para que haja inspeção e conservação permanentes de estruturas e edificações.  Qual a sua opinião sobre essa questão? E como o BIM se insere nessa demanda?

A proposta do sindicato é extremamente acertada.  A edificação ou a infraestrutura é um ser vivo,  a operação e manutenção são de extrema importância. Agora, com a indústria 4.0, em que se sensoria tudo: deslocamento, temperatura, vibração, presença, emissão de CO2, consumo de energia etc., caminhamos para ter uma manutenção preventiva assessorada. E veja quanta oportunidade de trabalho!

A senhora está entre aquelas que abriram caminho às mulheres na engenharia. Como a senhora vê o avanço feminino na profissão? 

Apesar de 40 anos de formada, sinto que nós, mulheres, sofremos e não temos reconhecimento e espaço. A engenharia civil com certeza é machista, assim como a ciência, então nós temos um grande trabalho pela frente. Não desejo de forma alguma que a luta pelo gênero seja pela sobreposição, é sempre pela igualdade, pelo reconhecimento, pela mesma oportunidade de espaço, voz, valor, que muitas vezes não temos. Por isso acho esse prêmio maravilho: uma mulher reconhecida em educação na engenharia civil pelo Sindicato dos Engenheiros. É uma sinalização muito importante pela igualdade. Eu acredito que nós, mulheres, conquistamos o espaço na nossa carreira pelo mérito. Às vezes o mérito não é suficiente, mas veja só onde o mérito me levou. Importante que os nossos colegas homens deem espaço para o mérito feminino.

Há perspectivas de ampliar a presença de mulheres nos cursos de engenharia que, embora tenha aumentado, ainda é minoritária?  O que seria necessário para atrair mais mulheres para a área?

Na verdade, nós, mulheres, buscamos o que queremos fazer. E quando fazemos engenharia, é uma delícia. Mas existem ações que podemos fazer nas escolas, mostrar melhor as engenharias no Ensino Fundamental 2, focando as meninas.

Como foi a sua escolha pela engenharia?
O meu pai era engenheiro agrônomo e o meu tio era engenheiro civil com muito reconhecimento, a quem eu tinha como um modelo. E eu tenho uma mãe muito batalhadora, pesquisadora igual a mim, engenheira agrônoma, que não via limites para isso. Nós, mães, temos que fazer isso com as nossas filhas.

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Comentários  
# ArquitetaMeire Garcia 21-11-2019 20:15
Profa. Regina, estou muito feliz pelo prêmio Personalidade da Tecnologia. Muito merecido!
Além da profissional impecável que é, também é um grande ser humano.
Responder
# engenheiro civilRony Ruschel 18-11-2019 09:12
Parabéns, Regina! Um prêmio mais que merecido. Pena que o Renato não esteja mais entre nós para partilhar desta alegria, com todo orgulho de pai.
Beijos do teu
tio Rony
Responder
# Personalidade da tecnologiaFERNANDO PALMEZAN NE 14-11-2019 12:12
Ótima entrevista, posições muito claras e sensatas. Parabéns à Prof Regina pelo premio e ao Seesp pela escolha acertada.
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