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19/01/2017

Fórum Social: o cinema debate a resistência

Silvio Tendler, Eliane Caffé, Joel Zito Araújo e Tata Amaral participam de um Cine Debate, às 19h, no Auditório do Sindicato dos Bancários, como parte da programação do Fórum Social das Resistências. Para o dia seguinte, selecionaram filmes que falam por si dessa relação entre o cinema e as tensões que cercam a difícil construção do empoderamento social e a identidade nacional. Os filmes serão exibidos em sessão corrida, durante todo o dia de sexta-feira, no CineBancários.

 

 Foto: DivulgaçãoSilvio Tendler Fórum

O debate e a sessão cinéfila serão dedicados a homenagear o cineasta brasileiro Andrea Tonacci, um grande nome do cinema nacional, referência do cinema marginal iniciado nos anos 70 e falecido no mês de dezembro passado. A família do cineasta autorizou para o Fórum a projeção do longa Serras da Desordem, um impactante documentário da história de um indio de comunidade isolada que teve a família dizimada por madeireiros e passou mais de uma década perambulando sozinho pelas serras do Brasil Central, até tornar-se manchete ao ser descoberto a 2 mil quilômetros de distância do seu local de origem. Tonacci conseguiu  fazer o filme passando pelos lugares e com as mesmas pessoas que viveram essa história, expondo um Brasil profundo, na personagem real e protagonista do filme, o índio Carapiru.

 

Nas ocupações do FSM
As primeiras do grupo de cinema a chegar ao Fórum, a diretora Eliane Caffé e sua assessora Maria Nilda, passsaram o dia de quarta-feira percorrendo três ocupações urbanas de Porto Alegre. Entre elas,visitaram no final da tarde a ocupação Mirabal, de moradoras que resistem à reintegração de posse do prédio que elas transformaram em Centro de Referência para a mulheres vítimas de violência. Além disso, acompanharam a mobilização de coletivos culturais e populares das ocupações pela realização de uma plenária de resistências urbanas, que acontece nesta manhã de quinta-feira na Câmara Municipal - e da qual participará.

Jovens que tomam as decisões em assembleias horizontais e divulgam suas atividades em papéis manuscritos expostos em murais, deram a Eliane Caffé o contraste com os debates em formato mesa-e-plateia que compóem inúmeras iniciativas do Fórum. Os velhos movimentos aprendem com os novos e vice-versa. A força da resistência, em sua opinião, está se reorganizando com a juventude e, em breve, terá impacto crescente para ajudar a transformar a sociedade.

Eliane trouxe para Porto Alegre o seu premiado "Era o Hotel Cambridge" para um pré-lançamento. O filme que conta a história do antigo hotel ocupado por famílias sem teto e refugiados em São Paulo só entrará em cartaz nos próximos meses. Mas já ganhou o Prêmio de Público na recente Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 

Para o povo negro, resistir não é novidade
Também já chegaram a Porto Alegre Joel Zito Araújo e Silvio Tendler, diretores que devem trazer duas perspectivas do Brasil em luta contra forças poderosas que ameaçam a soberania e barram a luta brasileira por igualdade racial.. "A minha perspectiva para esse debate é a mesma de toda história do povo negro no Brasil, diz Joel Zito Araújo: "sempre tivemos que resistir e resistir e isso para nós nunca mudou".Ele escolheu para exibição o filme Raça, que acompanha por vários anos a trajetória de três personagens negras tentando alcançar seus objetivos em um país comandando por brancos: o deputado Paulo Paím, o artista Netinho e a líder quilombola, Miúda dos Santos.

Ao fazer esse filme, Joel Zito acabou documentando um dos momentos de maior pressão do povo negro brasileiro no Congresso Nacional, para chegar à aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, hoje ameaçado.

Joel Zito participa, nesta manhã, da Plenária do Fórum sobre Comunicação e Cultura de Resistência, que definirá prioridades das duas áreas para as pautas e estratégias dos próximos meses, em especial no Brasil.

O documentarista acaba de passar pelo impacto de uma cassação pelo governo Temer, que fechou, através de Medida Provisória, o Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação, para o qual o cineasta havia sido  indicado pela sociedade civil recentemente. O Conselho tratava justamente das diretrizes de conteúdo, mantendo a TV Brasil como a maior janela de exibição do cinema nacional.

O tema da mídia pública será debatido na plenária, juntamente com trabalhadores da Fundação Piratini, que acabaram de vê-la extinta junto com várias fundações do Rio Grande do Sul, por um projeto do governo estadual aprovado em meio a protestos e repressão.

 

O país que ruma ao Bicentenário da Independência
Silvio Tendler exibirá o documentário Privatizações - Distopias do Capital, que escancara negociatas e interesses excusos por trás da entrega do país aos interesses privatistas. Para o diretor, Distopias é um instrumento de reflexão sobre os rumos do Brasil e a relação entre o patrimônio público e o capital privado. O documentário aprofunda a percepção sobre os caminhos da democracia e o interesse público. Participam do filme: Pablo Gentili, Marcio Pochmann, Guilherme Estrella, Paulo Vivacqua, Carlos Lessa, Ermínia Maricato, João Pedro Stédile, Luiz Pinguelli Rosa, Maria Inês Dolci, Carlos Vainer, Eloá dos Santos Cruz, Eduardo Fagnani, Ladislau Dowbor, Marcos Dantas, Samuel Pinheiro Guimarães...--

Conhecido por trazer às telas os meandros da história brasileira e suas personagens emblemáticas (fez filmes biográficos de Jango, JK, entre outras figuras nacionais), Tendler agora prepara um filme que conecta o Brasil das origens com o seu futuro próximo. Como estará o país no Bicentenário de sua Independência?

O trabalho é uma parceria de Tendler com o Projeto Brasil 2022, da Confederação Brasileira dos Trabalhadores Universitários Regulamentados (CNTU), a partir de uma provocação do diretor de Relações Institucionais da entidade, Allen Habert. 

Tendler lembra o  centenário da Independência, em 1922 quando vários fatos deram outro impulso à modernização do país. "No território das artes, vivemos a Semana de Arte Moderna quando uma geração revolucionou música, literatura, artes plásticas, teatro." . Ele cita também a "Exposição Universal do Rio de Janeiro" , que "trouxe a modernidade, em especial, de um mundo industrial, que propunha novos parâmetros de desenvolvimento, E a política da época foi marcada pelo Tenentismo, que colocou "novos atores em cena que confrontam as velhas oligarquias".

Hoje, Tendler diz que vivemos a "República dos Cupins" . E que é preciso "confrontá-los através do conhecimento da História, voltados para um futuro diferente". Essa foi a idéia apresentada por Allen Habert, e que Silvio Tendler aceitou o desafio de tratar em um filme.

 

Histórias que não são contatadas
A quarta cineasta a chegar a Porto Alegre é Tata Amaral, que traz o filme Trago Comigo para apresentar e debater com o público do Fórum. 

O filme é uma remontagem de uma série de TV de 2009. O protagonista, vivido por Carlos Alberto Riccelli, é  um diretor de teatro, ex-militante estudantil  que trabalha com  jovens atores em uma peça sobre seus dias de resistência e participação na luta armada. Lidar com a peça é ter de lidar com as sombras do passado, para poder voltar a dormir de noite. Tata mistura cenas ficcionais com relatos reais de militantes torturados, e procura falar a um publico que não viveu e desconhece esse passado.

Tata é reconhecida por se aprofundar nos temas duros da história recente do País, entre outras abordagens que dialogam com a luta por direitos humanos, além de ser  apontada como uma das grandes realizadoras do cinema brasileiro a partir da década de 1990.

Em que, conhecer esse período, pode ajudar as novas gerações a defender seu futuro e a democracia abalada no Brasil, é uma questão para o debate com Tata Amaral. Convicta de que a memória pode ajudar o presente, a cineasta lançou uma campanha no Facebook chamada #TragoComigoUmaLembrança, onde ela divulga uma série de vídeos com relatos sobre a tortura no Brasil.

O CineDebate é uma iniciativa da Ciranda de Comunicação Compartilhada e da Abong, com as organizações do FMML no Brasil, como Imel e Intervozes, e tem o apoio do Sindicato dos Bancários e do CineBancários.

Redação FNE

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