Meio ambiente

Energias alternativas em foco no III Ecovale

Lourdes Silva

 

Aconteceu, entre os dias 20 e 22 de outubro, na cidade de Taubaté, a terceira edição do Ecovale (Encontro do Meio Ambiente do Vale do Paraíba), reunindo engenheiros, especialistas, autoridades, estudantes. Realizado pelo SEESP, o evento teve a coordenação do seu vice-presidente, Carlos Alberto Guimarães Garcez, e contou com uma vasta programação, na qual se destacou o debate sobre energias alternativas.

Entre as possibilidades, foi apontada a utilização do resíduo da cana-de-açúcar para gerar energia elétrica, evitando-se a queima que acarreta problemas ambientais e de saúde em cidades como Piracicaba e Ribeirão Preto, responsáveis por cerca de 50% do açúcar e álcool produzidos no País. Segundo Walter F. Molina Júnior, professor da Esalq/USP (Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo), o desperdício gerado pelo que sobra da colheita equivale, transformado em energia, a 110 milhões de barris de petróleo por safra.

Outra saída indicada é a geração de biogás a partir de lixo urbano disposto em aterros sanitários, ricos em metano, apontou Marcos Gryschek, diretor técnico da Brasmetano Indústria e Comércio Ltda. Segundo ele, o combustível pode ser consumido em casa, na indústria ou em veículos com equipamento a gás natural, desde que tratado. Pode ainda ser queimado em motores estacionários que geram energia térmica. Produzir biodiesel através de oleaginosas foi proposto por Edmar Lopes Faleiros, engenheiro químico da Dedini S/A Indústrias de Base, para substituir o diesel, misturar a ele ou funcionar como aditivo. De acordo com ele, há no Brasil cerca de 90 milhões de hectares ociosos que poderiam ser destinados a esse fim. “Se plantássemos nessa área pinhão manso produziríamos mais biodiesel do que toda a Arábia Saudita produz petróleo”, asseverou.

Gabriel Murgel Branco, diretor da EnvironMentality Consultoria, defendeu o ônibus elétrico com célula de hidrogênio para o transporte urbano para reduzir o consumo de diesel e equilibrar a matriz de combustíveis brasileira, além de mitigar a poluição atmosférica. Na sua opinião, é urgente também aumentar a eficiência térmica dos veículos. “A idéia de que economia e ecologia andam juntas deve nortear esse desenvolvimento”, afirmou.

Antônio Vicente A. Souza e Silva, diretor da Eletra Tecnologia de Tração Elétrica, apontou a tecnologia em tração elétrica híbrida para ônibus urbanos e caminhões leves como uma saída ao problema apontado por Branco. Segundo ele, o veículo é acionado por um motor elétrico de tração, sendo sua operação similar ao trólebus. No entanto, como gera sua energia a bordo, é independente da rede aérea e pode operar em qualquer percurso.


Controle de emissões
De acordo com Edson Tomas, consultor sobre poluição do ar da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), as mudanças climáticas ocuparão o centro das discussões nos próximos anos e, por conseqüência, as fontes de emissão de gás carbônico, que são principalmente veículos automotores, indústrias, refinarias, termoelétricas etc. No entanto, lembrou ele, “no curto prazo, é esperado que tenhamos que controlar também estações de tratamento de efluentes, válvulas, selos de bombas, todo esse tipo de emissões”. Os riscos, caso não haja o controle, adverte, são o aumento do efeito estufa e malefícios à saúde como intoxicação, cânceres, disfunções reprodutivas e desordens neurológicas. A preocupação foi reforçada por Eduardo Antônio Licco, diretor da EALicco Consultoria S/C Ltda., para quem “é inegável o risco à saúde pública, o que sugere esforços urgentes”.


Responsabilidade social
Tais alertas remetem a medidas que estão sendo adotadas pelas empresas. José Galli, superintendente nacional de Parcerias e Apoio ao Desenvolvimento Urbano da Caixa Econômica Federal, informou que a instituição, que criou uma política ambiental, é signatária do Protocolo Verde desde 1995, compromete-se que toda aplicação de recurso siga a legislação dessa área e aderiu ao Pacto Global, o qual inclui entre seus objetivos alinhar políticas e práticas empresariais à proteção ambiental. “O desenvolvimento é responsabilidade coletiva dos governos, empresas e cidadãos, assim como a compatibilidade entre lucratividade e sustentabilidade ambiental”, afirmou. Nesse sentido, já existe uma certificação de responsabilidade social, definida pela norma AS 8000 à empresa que proíbe trabalho infantil e forçado, a discriminação, práticas abusivas e garante a saúde e segurança, liberdade de associação e negociação coletiva, horário adequado de trabalho e remuneração justa. Segundo Celso Atienza, vice-presidente do SEESP, 68% das agressões ambientais partem da linha de trabalho. Por isso, defendeu a inclusão desse item nas negociações junto às empresas, que deverão se adequar. Para Marcelo Abrantes Linguitte, do Instituto Ethos, “responsabilidade social é gestão de negócios, não filantropia”. Assim, uma empresa socialmente responsável no Brasil, no mínimo, tem que ser signatária do Pacto Global (o que pode ser feito pelo site www.pactoglobal.org.br).

Ocorreram durante o III Ecovale as apresentações técnicas “Co-geração a gás natural”, por Eduardo de Moraes, gerente de Desenvolvimento e Implantação de Projetos da Comgás (Companhia de Gás de São Paulo); “Resolução 420 da ANTT sobre o transporte terrestre de produtos perigosos e as normas da ABNT”, por Ivna de Carvalho, coordenadora do Departamento de Meio Ambiente da Julix Comércio e Coleta de Resíduos Industriais; “Projeto de redução de carbono”, por Priscila Mendes Zidan, da Central de Tratamento de Resíduos Nova Iguaçu; “Controle e cuidados em aterros industriais”, por João Gianesi Netto, diretor operacional da Ecossistema Gerenciamento de Resíduos Ltda.; “Reciclagem de embalagem de PET: o mercado hoje”, por Hermes Contesini, da Associação Brasileira da Indústria do PET.

 
Meio ambiente e mercado de trabalho

Entre os temas do III Ecovale, estavam as oportunidades e os desafios aos engenheiros propiciados pela crescente preocupação com a preservação. De acordo com Maria Judith Marcondes Salgado Schmidt, analista da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), “rigorosamente, o estágio é o tão ambicionado primeiro emprego”. Contudo, lembrou, é preciso garantir que o jovem permaneça na empresa e que o trabalho não crie empecilhos à continuidade de sua formação.

Para atuar nessa área, aconselha, é necessário ficar atento às oportunidades, conhecer terminologias do setor, política nacional de meio ambiente, lei de crimes ambientais, programa de conformidade e ter em mente as palavras: saúde, meio ambiente, educação e cidadania. Além disso, o profissional deve acompanhar as mudanças tecnológicas e ser criativo. “No futuro, não bastará o diploma para colocação profissional, será preciso ter respostas”, alertou.

Concordou com a tese Márcio J. Estéfano de Oliveira, chefe do Departamento de Engenharia Civil da Unitau (Universidade de Taubaté): “Precisamos aumentar o conhecimento para desenvolver novas tecnologias, ampliar a eficácia das pesquisas destinadas a reduzir os riscos ambientais.”

Evelin Cristina Astolpho, coordenadora Estadual do Programa Alimentos Seguros no Sebrae/SP, falou da ação desenvolvida com cooperativas de catadores de materiais recicláveis, com destaque à importância da coleta seletiva e à inserção social e econômica dos catadores. O Sebrae, em parceria com o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), elaborou o guia “Projeto recicla-reciclagem gerando renda”, com noções básicas para implantação e gerenciamento de cooperativa (www.sebrae.com.br).

 

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