Editorial

Opressão da violência

 

Tendo assegurado a veiculação de sua mensagem na TV Globo na madrugada de 13 de agosto, à custa do seqüestro de uma equipe da emissora, tudo indica que o PCC (Primeiro Comando da Capital) terá presença garantida também nas falas dos candidatos durante o horário eleitoral gratuito e nos debates que antecederão o pleito de outubro. Lamentavelmente, também já se anuncia o tradicional jogo de empurra que caracteriza a discussão sobre segurança pública no Brasil: “o problema é estadual”, “o governo federal não colabora” e por aí vai.

Já habituados à crescente violência, assim como os moradores de qualquer grande e média cidade brasileira, os paulistas hoje têm saudade dos tempos em que se temiam apenas os crimes comuns e aguardam ansiosos que medidas concretas e eficazes sejam tomadas para conter a onda de atentados que se instalou no Estado desde maio.

Nessa disputa anunciada entre uma facção criminosa e o governo, a vítima tende a ser o povo trabalhador de um modo geral, ainda que tenham sido transformados em alvos preferenciais policiais e agentes penitenciários. A ameaça constante é sem dúvida pior para quem não conta com segurança privada, não pode optar por simplesmente não sair de casa ou circular apenas pelas áreas consideradas menos perigosas e, claro, depende de transporte público.

No dia 13 último, conforme divulgado pela imprensa, morreu aos 44 anos o motorista de ônibus Manoel Francisco da Silva, um mês após ter cerca de 75% do corpo queimado em um atentado atribuído a integrantes do PCC, em Nova Odessa. O episódio, de trágico desfecho, foi apenas um de uma série que levou empresas de ônibus a suspenderem suas operações inúmeras vezes. Nesses casos, o Estado, além de não prover segurança ao cidadão, não foi capaz de lhe oferecer transporte público, outra obrigação básica descumprida.

Atônita e amedrontada, a população vê sua cidadania atingida, outra vítima das bombas e tiroteios. Está mais que na hora de a questão ser tratada seriamente pelas autoridades, com participação da sociedade, o que inclui os trabalhadores. É inadmissível que o medo e o perigo real a que estão expostas as pessoas sejam utilizados eleitoralmente. É preciso que todos os erros cometidos até aqui sejam examinados e reparados. Bravatas e discursos duros, porém vazios, de nada servem. O Estado deve se dedicar a cumprir a lei de maneira correta e eficiente, desde o policiamento ao sistema carcerário. Prisões lotadas por quem cometeu pequenos delitos ou já deveria ter sido solto transformam-se em verdadeiros postos de arregimentação para o crime organizado.

As ardorosas discussões que marcarão o período pré-eleitoral são um ótimo momento para se abandonar a retórica fácil e debruçar-se sobre o problema real e sério. É o que os eleitores aguardam.

 

Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente

 

 

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