Editorial

No 7 de setembro, o clamor pela verdade

Já se vão longos quatro meses desde que o funcionário dos Correios, Maurício Marinho, foi flagrado recebendo propina por favorecimento de uma empresa privada e se tornou o estopim da crise que o País atravessa. Desde então, como já se pontuou neste espaço, a perplexidade toma conta do Brasil, que, chocado a cada denúncia de corrupção, exige a punição dos culpados e torce para que os episódios sirvam ao aprimoramento do nosso sistema político.

Foi nesse clima que se comemorou o 7 de setembro de 2005. Na véspera do Dia da Independência, uma manifestação na Praça da Sé promovida pela Força Sindical, CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores), OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil) e Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), entre outras, reuniu alguns milhares de trabalhadores que clamaram pela verdade, conforme o manifesto lido ao final.

Basicamente, é essa a grande reivindicação do povo brasileiro, já exausto de discursos enfáticos e jogos de cena, cujo único objetivo é manter o status quo, que desde 1500 beneficia os mesmos e os de sempre, os donos do poder. É preciso apurar os desmandos e punir os responsáveis para que o Brasil saia desse imbróglio melhor do que nele entrou. Aos homens públicos de fato compromissados com o interesse da maioria, e seguimos acreditando que existam, cabe agir com esse objetivo.

Falar em “acordão”, pizzas ou que tais trata-se de imenso desrespeito ao cidadão cuja vida é uma eterna labuta, na luta diária para ganhar seu sustento e garantir a si e a sua família o mínimo de dignidade. A esse brasileiro, os representantes políticos e a sociedade organizada devem respostas à altura.

Tais respostas devem vir, evidentemente, dentro da normalidade institucional, conforme prevê a Constituição. Difícil afirmar que seja verdadeiramente democrático um País com índices alarmantes de exclusão e onde grassa a desigualdade e injustiça social, enquanto o mercado financeiro festeja lucros exorbitantes. No entanto, tampouco estamos numa republiqueta de bananas, onde se tira da cartola a solução mágica mais conveniente no momento. Sigamos as regras constitucionais e, estritamente dentro da lei, levemos as investigações de quem quer que seja às últimas conseqüências, sem abusos e sem proteções.

Se o Brasil puder lidar de maneira correta e madura com a atual crise, já será um motivo para comemorar o 7 de setembro: a sensação de que poderemos um dia nos tornar uma nação de fato.

 

Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente

 

Texto anterior

Próximo texto

JE 263