Memória

O engenheiro Leonardo da Vinci

 

“A mecânica é o paraíso das ciências matemáticas, uma vez que por meio dela obtém-se o fruto matemático”, afirmou o gênio renascentista. A frase, reproduzida em “Leonardo – Arte e ciência – As máquinas”, publicado este ano pela Editora Globo, consta de um de seus códices, escrito entre 1513 e 1514, na qual surgia, a partir da observação dos pássaros, a idéia de que o homem também poderia voar com a ajuda de um dispositivo mecânico.

Mais famoso pela Mona Lisa e pelos estudos de anatomia, Leonardo foi, sem dúvida alguma, um engenheiro. Desenhou elementos básicos, como molas e engrenagens, e desenvolveu projetos de drenagem e aperfeiçoamento industrial. Segundo o texto de Carlo Pedretti, um dos autores da obra, editada originalmente na Itália pela Giunti Editore, os primeiros desenhos de máquinas surgem já a partir de 1478, juntamente com as figuras geométricas.

Entre 1487 e 1490, o autor fixa o momento em que a idéia do helicóptero cruza a mente de Leonardo da Vinci. Ele teria pego uma “régua larga e fina”, girado violentamente no ar e percebido que, guiado por tal movimento, o braço tendia a se elevar. “Dessa experiência, surge o princípio que rege o helicóptero. Trata-se exatamente do mesmo que conhecemos hoje” , conclui. Vale a pena conferir a descrição feita pelo próprio Leonardo do esboço originado de tal insight: “A extremidade exterior do parafuso terá um cabo de fio de ferro grosso, e a partir do círculo externo sairão oito braços para a base. Penso que, se esse aparelho helicoidal for construído adequadamente – isto é, fabricado com tela fina cujos poros sejam vedados com amido – e girado rapidamente, fará uma espiral no ar e se deslocará para o alto. Do mesmo modo que se impulsionarmos uma régua larga e fina no ar com um movimento enérgico, percebe-se que o braço segue a linha de corte do dito eixo. A mencionada tela será armada com canos largos e grossos. É possível construir um pequeno modelo em papel, cujo eixo seja de fina lâmina de ferro que, se for girado, dará voltas ao ser liberado.”

Em manuscritos que remontam a 1482, prevalecia a idéia do “ornitóptero”, máquina que reproduziria o bater das asas dos pássaros. Por volta de 1505, ele chega à conclusão que a melhor solução seria um aparelho que planasse e pudesse ser manobrado pelo piloto por meio de simples movimentos da parte superior de seu corpo. “Este é, de fato, o princípio da asa-delta, ao qual Leonardo chega também observando o comportamento das pipas, que, sendo de grandes dimensões, eram capazes de erguer um homem”, conta Pedretti.

Desenhos datados entre 1497 e 1500 revelam outros interesses de Leonardo, que não se restringiam às fabulosas máquinas voadoras. Neles estão relógios e elementos mecânicos como alavancas, rodas e engrenagens. Entre esses, a famosa ilustração do princípio da transmissão do movimento de uma mola de relógio comprimida e enfiada em um tambor.

Leonardo ocupou-se ainda da indústria têxtil. A obra publicada pela Editora Globo dá conta de extensos estudos, de 1495, para máquinas como fiadoras automáticas e cardadoras.

 
Cronologia

Leonardo nasceu em Vinci em 1452, filho ilegítimo de um tabelião. Por volta de 1469, ingressa no ateliê de Verrocchio, em Florença. Suas primeiras obras surgem em 1472. Em 1495, inicia a pintura da “Última Ceia”, que termina em 1497. Em 1502, começa a trabalhar para César Borgia como arquiteto e engenheiro geral. No ano seguinte, pinta a Mona Lisa e realiza projetos para desviar o curso do Rio Arno durante o cerco de Pisa. Os estudos de anatomia começam em 1510, na Universidade Pavia. Morre em 2 de maio de 1519. Na cerimônia do enterro, é homenageado como “primeiro pintor, engenheiro e arquiteto do rei, engenheiro mecânico do Estado”.

Fonte: Leonardo – Arte e ciência – As máquinas, Ed. Globo, 2004.

 

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