Engenharia

Aliada dos atletas, tecnologia será espetáculo à parte nas Olimpíadas

Soraya Misleh

 

É o que prometem os jogos de Atenas, segundo o professor-doutor Turibio Leite Barros Neto, coordenador do Cemafe-Unifesp (Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte da Universidade Federal de São Paulo). O evento, cujo objetivo primordial é celebrar a união entre as nações, ocorrerá entre 11 e 29 de agosto na capital da Grécia, país berço das olimpíadas e também o local onde se originaram os jogos modernos, no ano de 1896.

A história demonstra que desde os primórdios, em 2.500 a.C., os competidores buscavam soluções que contribuíssem para sua melhor performance durante as provas. Assim, por exemplo, em substituição às túnicas de linho usadas por eles na Grécia antiga, que dificultavam os movimentos, passaram a disputar as provas completamente nus.

 

Fator decisivo – De lá para cá, obviamente, muito se evoluiu, com o auxílio da engenharia, e os atletas puderam voltar a se vestir, agora com tecidos e fibras especiais que lançam moda. Também pistas, gramados, quadras, piscinas, bolas, outros equipamentos e acessórios como sapatilhas e tênis passaram a ser desenvolvidos para garantir melhor desempenho nas competições. Hoje, para Jayme Netto Júnior, técnico da seleção brasileira nas provas de velocidade e revezamento de atletismo, a tecnologia usada no material esportivo é fator decisivo na performance de um esportista e pode representar a diferença entre uma medalha de bronze e uma de ouro. Segundo ele, nos países que dispõem de centros de treinamento adequados, os atletas podem intensificar a fase de preparação. O Brasil tem quatro, sendo três no Estado de São Paulo e um no Rio Grande do Sul, além de várias pistas que Netto qualifica como “muito boas”. “São de borracha mais densa, portanto, mais macias. Provocam menos lesões. O atleta passa a ter um desenvolvimento técnico melhorado.” Na sua análise, as condições de treinamento asseguradas aos esportistas brasileiros a partir de 2000 nem se comparam com aquelas das olimpíadas anteriores. De acordo com ele, até 1996, em Atlanta, evitava-se inclusive freqüentar academia na localidade. “Gerava certa sensação de inferioridade.” O aumento da auto-estima é outro reflexo da tecnologia apontado por Netto.

Embora a mudança tenha sido significativa e o País esteja qualitativamente em condições de igualdade com outras nações, o técnico admite que, em termos de quantidade, ainda “não está no nível que merece”, pois os centros são restritos. Ele constata que tal situação tem a ver com o estado de desenvolvimento do País. “O dia em que tivermos isso disseminado vamos ampliar as oportunidades de acesso ao esporte às pessoas. O aumento no número de pistas influencia no desenvolvimento da modalidade”, complementa.

A maioria dos centros de treinamento foi executada por meio de um sistema alemão que alia alta tecnologia e preocupação ambiental. São pistas sintéticas feitas com manta de borracha reciclada de pneus, recoberta com uma camada de resina de poliuretano e grânulos de borracha especial de alta durabilidade. “Absorvem impacto e preservam a integridade física do atleta”, confirma Marcio da Graça Veiga, diretor técnico de marketing da distribuidora Recoma, a qual integra o consórcio de empresas responsável pela construção do Estádio Olímpico João Havelange, no Rio de Janeiro, que sediará os jogos pan-americanos em 2007.

 

Segunda pele – As roupas que os atletas do mundo todo usarão em Atenas incrementarão o desfile tecnológico. “Hoje, são coadjuvantes no desempenho, não mais obstáculo. O tecido inteligente é dotado de capilarização e favorece a dissipação do suor. Funciona como uma segunda pele”, destaca Turibio Leite. Esse é resultado da combinação de poliamida com elastano. “É importante que a fibra transpire e não retenha umidade”, atesta o engenheiro têxtil José da Conceição Padeiro, gerente de marketing da Rhodia, que fabrica fios de poliamida. A tecnologia de ponta é fruto, de acordo com ele, da modificação do DNA do fio. Tem a peculiaridade ainda de assegurar “proteção aos raios solares e eliminar a proliferação de bactérias”.

Leite cita outras propriedades que devem estar presentes nos tecidos esportivos, como secagem rápida, leveza e efeito compressivo. Esse atenua, conforme ele, o trauma do exercício, melhora a transferência da força muscular e possibilita ao atleta a execução de movimentos mais precisos. Conseqüentemente, o professor salienta que uma bermuda de compressão permite ao esportista correr mais. E acredita que não se verá uma prova de atletismo de 100 metros em que o competidor não a vista. “Alguns estarão de calça.” Ele continua: “Haverá prevalência da roupa do nadador. A figura do atleta vestido da cabeça aos pés para o esporte será cada vez mais freqüente.” Na sua opinião, os jogos de Atenas serão mais coloridos, pela incorporação da tecnologia têxtil. E essa será uma das razões para que “recordes continuem a ser quebrados e os limites superados”.

Apesar de predominarem nessas Olimpíadas as roupas de última geração, os atletas sofrem a influência da marca e usam o que essa determina, que poderá eventualmente não ser o que há de mais avançado. Porém, para Leite, é questão de tempo para que as grifes que ainda não usam tecnologia de ponta passem a fazê-lo. Nesse sentido, ele acredita que as olimpíadas são um grande laboratório.

 

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