BOM-SENSO DERROTA IMPUNIDADE

Uma das vergonhas da legislação política brasileira começa a ser desmontada depois de vigorar anos a fio, protegendo deputados e senadores que, não fosse a lei da impunidade, ou melhor, da imunidade parlamentar, estariam alguns deles presos há muito tempo ou ao menos respondendo pelos crimes cometidos. Essa lei, considerada intocável até há pouco tempo, impedia que parlamentares fossem processados por crime comum, exceto quando seus pares autorizassem tal medida judicial contra o “nobre colega”.

Como o corporativismo arraigado sempre primou nos parlamentos brasileiros, essa conduta fazia com que a sociedade pagasse, mensalmente, os salários e as vantagens de políticos acobertados pela lei e considerados cidadãos especiais acima de qualquer suspeita.

Mas, como nada é eterno, a sociedade brasileira, com apoio da imprensa e de organizações que combatem a desmoralização nacional, reagiram vigorosamente aos inúmeros escândalos de corrupção, sendo a maioria deles crimes financeiros contra o Estado, envolvendo “gente fina” com títulos de vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, senadores, governadores e alguns ministros suspeitos, que “saíram pela tangente” para se livrar de constrangimentos públicos. Custaram e continuam custando muito caro à sociedade brasileira os crimes de peculato, de colarinho branco e por má gestão administrativa, perpetrados por políticos sem escrúpulos.

Com isso, muitos parlamentares brasileiros caíram em total descrédito, com tal gravidade que política passou a ser sinônimo de corrupção para o senso comum.  Nas últimas eleições, os índices de votos brancos, nulos e abstenções aumentaram brutalmente, traduzindo esse entendimento que representa um risco à democracia.

Feliz a iniciativa dos parlamentares da Câmara dos Deputados e particularmente do presidente Aécio Neves, que, pressentindo a gravidade do momento nacional, antecipou-se a apresentar uma proposta de emenda constitucional modificando a atual e intolerável “Lei de Imunidade Parlamentar”,  que é um dos símbolos da pouca vergonha nacional.

Em 6 de novembro, a Câmara dos Deputados aprovou, em primeiro turno, emenda constitucional de autoria do deputado Ibrahim Abi-Ackel, que modifica a lei vigente e restringe a imunidade parlamentar ao exercício do mandato, permitindo que  o congressista corrupto  seja processado por crime comum no Supremo Tribunal Federal, sem a necessidade de licença prévia do Poder Legislativo. Ele poderá ser alvo de ações no STF por crimes cometidos antes da diplomação e durante o mandato.  Em outras palavras, aprovada a nova lei, os congressistas serão imunes somente pelas suas opiniões, palavras e votos.  Parabéns, senhores parlamentares, o Sindicato dos Engenheiros aprova medidas dessa importância, apesar de termos ganho somente a primeira batalha. A guerra continua.

 

Eng. Murilo Celso de Campos Pinheiro
Presidente

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