ENGENHARIA E CULTURA


Estação terá sala de concertos

E será a mais moderna da América Latina, parte do Complexo Cultural Júlio Prestes, que envolve requintes de Engenharia e o trabalho de 200 profissionais.

Em 21 de abril do próximo ano, os paulistanos poderão aproveitar o feriado tendo mais um grande espaço cultural à disposição. Para o dia de Tiradentes, está marcada a inauguração da Sala Júlio Prestes de Concertos, ao lado da estação ferroviária homônima. Considerada a mais moderna da América Latina, com capacidade para 1.500 pessoas, a obra faz parte do projeto da Secretaria de Estado da Cultura que visa a revitalização, adaptação e aproveitamento de edifícios de valor arquitetônico e histórico, localizados na região central da Capital. Outros espaços já reformados são a Pinacoteca do Estado, o Teatro São Pedro, o Museu de Arte Sacra e a Oficina Cultural Oswaldo de Andrade.

Destinada a ampliar as opções culturais da população, a iniciativa acabou cumprindo um outro fim: garantir emprego para profissionais envolvidos com as restaurações. Segundo o engenheiro Bento Carlos Martinez, assessor de obras da Secretaria, em determinada etapa, chegou a recrutar 550 pessoas. "Hoje, entre os 300 trabalhadores, há mais de 200 engenheiros, sem exagero", assegurou. Além disso, "após a inauguração, será necessária uma equipe permanente de manutenção de no mínimo 20 desses profissionais".

Complexo cultural

As reformas no prédio da Estação Júlio Prestes iniciaram-se em novembro de 1997, visando torná-lo um complexo cultural que abrigará também a Secretaria de Estado da Cultura e a sede da Orquestra Sinfônica. O trabalho está a cargo do Consórcio Triunfo Acciona, composto por uma empresa brasileira e um grupo espanhol, e até o término consumirá um orçamento de R$ 44 milhões. Em mil metros quadrados, a sala de concertos terá 22 camarotes, dois grandes balcões, lugar para coral de 50 a 220 vozes e palco compatível para apresentação sinfônica de grande porte. O espaço terá ainda um salão de entrada, dois outros auxiliares e um imponente hall. Para resguardar o valor arquitetônico e histórico do local, foram mantidas as 32 colunas originais de 17 metros de altura. No andar térreo, estão sendo construídos dois foyers – locais destinados ao público durante os intervalos – interligados por um café e um restaurante, banheiros, áreas para suporte de palco e espera dos instrumentistas.

A sala de música foi projetada dentro dos parâmetros técnico-acústicos internacionais e contará com um forro móvel que poderá ser ajustado às dimensões do espaço, de acordo com os sons emitidos pela orquestra nas apresentações. No mezanino, haverá um salão de música de câmara com capacidade para 250 pessoas. Também está previsto um salão nobre, dez camarins — oito coletivos e dois individuais —, salas para ensaios dos naipes (cada um dos grupos de instrumentos em que se divide uma orquestra) e um restaurante. E ainda nove salas de ensaio, com paredes acústicas e uma biblioteca para partituras. No segundo e terceiro andares, estão sendo construídos locais para a administração da orquestra, um estúdio de gravação e o piso técnico, onde ficará parte da maquinaria. O estacionamento será nos fundos da estação, em dois subsolos de concreto armado pré-moldado protendido para 600 veículos, para não afetar a arquitetura do prédio nem sua visão à distância — haverá acesso da garagem diretamente para o foyer de entrada da sala sinfônica. Futuramente, haverá uma praça de eventos sobre os 7 mil metros quadrados da laje de cobertura do estacionamento, onde atualmente está sendo feita uma sala para tratamento acústico, com o objetivo de neutralizar ruídos e vibrações.

Detalhes da obra

Além de ser considerada tecnicamente a mais perfeita da América Latina para efeito de acústica, a Júlio Prestes terá um forro com 100% de mobilidade, inexistente em qualquer outra sala de apresentação. A sua movimentação será feita por computador, para regular o volume da área de acordo com o tipo de música executada. Por exemplo, uma com mais metais precisará de maior espaço, assim o forro ficará mais alto; se tiver mais piano e cordas, ficará mais baixo. Ele é composto por placas (de onde sairá a iluminação) revestidas de madeira com toda estrutura metálica e servirá de piso técnico que poderá ser usado pelo pessoal de operação. A idéia é mantê-lo no alto para que o público possa apreciar a beleza artística e arquitetônica antes de assistir as apresentações. Poucos minutos antes do início do espetáculo, será baixado até a altura adequada.

Outra particularidade da sala diz respeito ao nível de ruído. Foi feito um tratamento acústico para que nada faça barulho e atrapalhe o desenvolvimento da sala sinfônica, tanto em relação ao ar condicionado, exigindo isolamento dos dutos e motores do equipamento, como pela vibração causada pelas linhas da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), próximas ao local.

Martinez informou que foi feito reforço em toda a estrutura do prédio, para poder suportar a sobrecarga do telhado, de aproximadamente 130 toneladas por coluna. "Isso exigiu Engenharia de Fundações de primeiro nível, em detalhes e sofisticação", afirmou o assessor da Secretaria da Cultura.

Sexagenária em alta

Inaugurada há 60 anos, a Estação Júlio Prestes tinha o objetivo de sediar e ser o ponto de partida da Estrada de Ferro Sorocabana, companhia criada em 1875 pelos barões do café para escoamento desse produto até o Porto de Santos. Em 1971, a linha passou a fazer parte da Fepasa (Ferrovia Paulista S.A.) e, desde 1996, integra a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Construída entre 1926 e 1938, a obra teve toques de requinte, com o projeto do arquiteto Cristiano Stockler das Neves, que se baseou no estilo eclético chamado "Luiz XVI modernizado", uma reação aos exageros do barroco.

Palco de inúmeros eventos, como festas e desfiles de moda, agora a Júlio Prestes alcançou o ponto mais alto de sua história, passando a abrigar, a partir de abril de 1999, a sala de concertos mais moderna da América Latina. Segundo o assessor de obras da Secretaria de Estado da Cultura, Bento Carlos Martinez, a escolha foi "ocasional". "Convidado a substituir o falecido Eliazar de Carvalho, o maestro John Neschling impôs algumas condições, entre elas o reajuste do salário dos músicos e uma sede para a orquestra. Ele indicou a empresa americana Artec Consultants Inc., de Nova York, para selecionar o local mais apropriado. Chegou-se à conclusão de que a Júlio Prestes era perfeita acústica e fisicamente", contou.

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